terça-feira, 9 de agosto de 2011

Artigo: Sobre o "Jeitinho Brasileiro"

Por José Wellington dos Santos*:

A frase de Gerson, jogador brasileiro da copa 1970, em propaganda de cigarro, “Sou brasileiro, por isso gosto de levar vantagem em tudo, certo?!” e a célebre frase da Regina Casé (atora da Globo), em seu programa dominical (2011), de que “a vocação do brasileiro é pra fazer festas”, representam muito bem esse sentimento do jeitinho brasileiro, da malandragem, assim como a tão famosa preguiça ventilada em verso e prosa. Essa imagem, em grande medida, até os dias de hoje, tem sido tomados como algumas das características, endógena e exogenamente falando, do povo brasileiro. Pois, há muitos brasileiros que acreditam piamente que essas características são intrínsecas de nosso caráter, de nossa sociedade, bem como os povos estrangeiros que nos olham muitas vezes com certo desdém, até pelo fato de sermos um povo alegre que rimos de nossa própria desgraça, o que é um equívoco.

Os pressupostos encontrados nos dois suportes discursivos que estudamos – nas obras de Sérgio Buarque, Raymundo Faoro e Roberto Da Matta e nos filmes de Sérgio Bianchi e Joaquim Pedro de Andrade, ajuda-nos entender que na evolução de nossa sociedade, é possível notar outros aspectos, mostrando que o brasileiro não é malandro, que só pensa em levar vantagem em tudo (jeitinho brasileiro), nem tão-pouco preguiçoso. A bem da verdade, auxilia-nos a descortinar o véu de que somos preguiçosos, malandros. Aos poucos, os símbolos forjados pela elite brasileira (o futebol, o carnaval, o samba, a caipirinha, a feijoada, dentre outros), vão-nos demonstrando que esses elementos de cultura popular nos custam muito esforço e trabalho para mantermos inclusive o status conseguido nacional e internacionalmente.

Expressando-nos sobre a nossa cordialidade, ressaltamos que ela pode até nos tornar aparentemente amáveis à vista dos olhos de quem nos julgam, mas com certeza seria um engano supor que há civilidade neste gesto, pois o que há é qualquer coisa de coercitivo expresso em mandamentos e sentenças, segundo afirma Buarque de Holanda, como o que coadunamos.

Já sobre o “jeitinho brasileiro”, este está longe de ser extirpado de nossa imagem. Contudo, acreditamos que a evolução de nossa sociedade tem sim trazido pontos positivos que com esforços e sacrifícios superaremos esse estigma que já dista da época de nossa formação como sociedade (desde à época do império). Aos poucos superaremos a nossa falta de capacidade para lidar com assuntos ou situações, pois vontade não nos falta de fazer as coisas com exatidão, retidão, de forma escorreita. Para tanto, há de ocorrer uma revolução, no mínimo, educacional, para não falarmos em armas.

A não execução da coisa certa, ao contrário do que se possa imaginar, como sendo a falta de capacidade, pode ser em certa proporção, por falta de conhecimento e não simplesmente de preguiça, além do que a “lei do menor esforço” que é universal, não é privilégio do povo brasileiro. Contudo, não podemos tapar o sol com a peneira, a imperícia e a capacidade de se safar de situações difíceis ainda é, por muitos, um modo utilizado para escapar de uma situação de difícil enfrentamento, levando muitos a buscar o favor, o apadrinhamento e a relação pessoal sobre as normas universais de conduta. Uma amostra clara de baixo índice de cidadania.

*José Wellington dos Santos é Engenheiro e Cientista Político.

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