Por Merval Pereira, publicado no Blog do Noblat:
O mais grave que está acontecendo no país não é nem mesmo oinacreditável vale-tudo em que se transformou a campanhapresidencial, mas a banalização das atitudes maisperniciosas do governo nesses últimos anos, especialmenteapós o episódio do mensalão em 2005, e de maneira maisacentuada no segundo mandato do presidente Lula.
São praticamente oito anos solapando as instituições dopaís, provocando ao final um anestesiamento na sociedadebrasileira, que tudo justifica porque parte de um governopopular, aprovado por mais de 80% da população.
Como se a popularidade desse a qualquer governo o direito deignorar leis, ou mesmo que as consequências benéficas destaou daquela política social justificassem abusos de poder, ouos atenuassem.
O governo Lula está conseguindo transformar críticas ematitudes mesquinhas e antipatrióticas, e, assim como misturao público com o privado, confunde o líder partidário com opoder do cargo de presidente da República, sem que asociedade se indigne.
E quem critica esse abuso de poder político nunca antesvisto neste país corre o risco de ser considerado um sujeito"do contra", que não reconhece os avanços havidos.
Cada vez fica mais restrito o campo para as divergências, aomesmo tempo em que se alargam os caminhos para oautoritarismo e a truculência do Estado.
O presidente Lula começou essa escalada autoritária depoisque conseguiu escapar da crise do mensalão.
Entre o momento em que ele próprio disse que havia sidotraído dentro do governo, até quando os petistas foram àtribuna do Congresso chorar literalmente de vergonha peloque estava sendo exposto, houve no país uma indignação quepoderia fazer a política andar para a frente, com reformasestruturantes e punição dos responsáveis pelo maior prejuízoinstitucional que o país já sofreu na História democráticarecente.
Mas o presidente Lula, impossibilitado de enfrentar a criseque estava arraigada no seu partido e no seu governo,assumiu em entrevista dada em Paris a versão de que omensalão não passava de caixa dois, prática normal napolítica brasileira.
A partir daí, a prometida apuração rigorosa passou a ser umaproteção desabrida de todos os envolvidos, e a promessaimplícita de que ninguém sofreria prejuízos se todos seunissem num pacto de silêncio.
O presidente sistematicamente passou a mão sobre a cabeçados aliados, fossem eles quem fossem, tivessem cometidoqualquer tipo de crime.
Essa se tornou a regra do governo, como nas máfias, eacelerou-se no segundo governo Lula a montagem da máquinagovernamental a serviço dos "companheiros".
A defesa intransigente de qualquer malfeito de aliados é acontrapartida do apoio cego, acrítico.
Lula não teme nenhum limite legal, desmoraliza o Judiciáriocomo fez agora nesta campanha com o TSE, e se jacta de quepode ir para as ruas quando quiser para combater seusadversários.Foi à televisão na condição de presidente da República paraexercer o papel de cabo eleitoral de sua candidata,colocando o principal adversário como um antipatriota quenão pensa no bem do país.
Repetiu na segunda à noite em Santa Catarina, quando,misturando mais uma vez o cargo que ocupa com seusinteresses partidários, alegou que "em nome da minha honra eda honra do meu país" não perderá as eleições.
E acrescentou que estava fazendo hoje o que fez em 2005:"Vou às ruas para derrotá-los".
Na verdade, essa ameaça de levar os movimentos sociais paraas ruas para reagir ao possível pedido de impeachment nuncase concretizou, e Lula chegou mesmo a autorizar umanegociação para não se candidatar à reeleição em troca depoder terminar seu mandato.
Com a recuperação de seu prestígio graças aos bons ventos daeconomia mundial, Lula voltou a ser aquele líder dado a"bravatas", como ele mesmo confessou que fazia quando estevena oposição.Inebriado com seu próprio sucesso, Lula foiadiante e, ao lado da sua candidata Dilma Rousseff, afirmouque o "DEM precisa ser extirpado" da política brasileira.
Seu rancor data ainda de 2005, quando, segundo acusou, afamília Bornhausen tentou derrubá-lo do poder.
A gravidade desse episódio, além do fato de um presidente daRepública defender em público o extermínio de um adversáriopolítico, é que, anos antes, o então senador JorgeBornhausen havia provocado em Lula e nos petistas umaparente sentimento de estupor quando disse que na eleiçãode 2006 o país precisava "se ver livre dessa raça por 30anos".
Foi chamado de tudo: "fascista", "direitista", "adepto dasditaduras militares", "explorador e assassino detrabalhadores".
Nenhum comentário:
Postar um comentário