quarta-feira, 7 de abril de 2010

Artigo sobre as pesquisas de opinião

Artigo publicado pelo jornalista José Roberto de Toledo no blog do Estadão, em 24 de março de 2010. Veiculado pelo Blog Casa de Política.

Isso não quer dizer que seja possível prever o resultado da eleição. Ninguém sabe, por exemplo, se um candidato cometerá haraquiri político durante uma campanha. Ou se uma crise econômica súbita mudará o humor de quem vota. Mas, em função desses eventos, é possível monitorar o pensamento dos vários conjuntos de eleitores e prever, se a eleição ocorresse naquele momento, como eles se comportariam diante da urna eletrônica.



Embora os puristas digam que as pesquisas de opinião no Brasil não sejam científicas porque não são 100% probabilísticas, a série histórica de acertos mostra que elas funcionam. Nas eleições em que há mais de um instituto pesquisando a intenção de voto, os resultados de véspera tendem a ter 95% de acerto ou mais em comparação às urnas (se considerada a margem de erro).

Aliás, a sondagem eleitoral é o único tipo de pesquisa que pode ser confrontado com a realidade, pois se tira a prova dos nove nas urnas. Mesmo assim, muito menos gente questiona a validade das pesquisas sobre taxa de desemprego, por exemplo. E elas também são amostrais. O motivo para isso talvez seja a paixão despertada pelas eleições.



O mesmo eleitor que usa a pesquisa do IBOPE ou do Datafolha para gritar que o governo Lula tem 75% de aprovação, questiona o resultado da pesquisa quando seu candidato está atrás do adversário. É natural, até esperado. Estudos sobre as razões do voto mostram que o eleitor se move mais pelas entranhas do que pelo cérebro. Claro, é modo de dizer. O cérebro é quem decide, mas não seu lado racional, e sim aquele que comanda as emoções - ou é comandado por elas.



Na verdade, se você tem uma opinião visceral contra as pesquisas de intenção de voto, é provável que neste exato momento seu cérebro esteja ativando uma série de redes neurais para racionalizar as suas emoções e encontrar argumentos que o farão ainda mais convicto de que as pesquisas s& atilde;o todas fajutas. Ao final, estará satisfeito com sua capacidade de argumentação, fruto de uma descarga de dopamina auto-recompensadora.

Acredite ou não nos argumentos, lembre-se de Arthur Conan Doyle: “Enquanto o indivíduo sozinho é um quebra-cabeças insolúvel, agregado ele se torna uma certeza matemática. Nunca se pode prever o que um homem sozinho fará, mas é possível dizer com precisão o que, na média, muitos deles farão”. Dito assim, parece até elementar, meu caro eleitor.

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