quinta-feira, 14 de abril de 2011

FHC escreve artigo sobre o "Papel da Oposição" e retoma espaço na mídia com repercussão polêmica.

Do Jornal O Estado de São Paulo, veiculado pelo Blog Coturno Noturno

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) considerou ontem "precipitadas" as reações a seu artigo O Papel da Oposição - publicado na revista Interesse Nacional e divulgado anteontem pela internet. "Me espantei com o tamanho da repercussão. Achei também precipitadas algumas reações, sobretudo da oposição que, pelo que pude perceber, disse coisas que acabam fazendo o jogo do PT", afirmou ele ao Estado. No artigo, o ex-presidente aprofunda uma análise sobre o que chama de "lulopetismo", defende seus oito anos na Presidência (entre 1995 e 2002) e faz fortes críticas ao seu PSDB. No trecho que se tornou o foco central dos críticos e de incômodo para seus correligionários, ele sustentou que se os tucanos continuarem tentando dialogar com o "povão" acabarão "falando sozinhos", pelo fato de "as massas mais carentes e pouco informadas", em sua opinião, terem sido "cooptadas" pelo PT, Por isso, aconselha o partido a priorizar "as novas classes médias", gente mais jovem e ainda não ligada a partido nenhum. Portanto, suscetível de ouvir a mensagem da social-democracia.

"O que estou dizendo", explicou Fernando Henrique, "é que o PT e o governo dispõem de poderosos meios em amplos setores de camadas pobres, mas cooptadas por sindicatos e centrais sindicais". E acrescenta: "Também existe, é claro, um "povão" na nova classe média". O ex-presidente afirma que, ao fazer a análise, não estava excluindo ninguém. O que pretendia era convencer as oposições a definir seu foco de atuação. "Ora, eu venci duas eleições com o voto desse povão. E no primeiro turno, e contra o Lula. Agora, temos de ter uma estratégia para esses novos setores, mais sensíveis. Temos de fincar o pé na internet e nas redes sociais."

O ex-presidente também refutou, na conversa, um argumento mencionado por vários críticos - o de que essas "novas classes médias" subiram justamente por causa dos programas sociais do governo Lula e, portanto, não seria fácil convencê-las a mudar de lado. "Isso não faz sentido", adverte. "Esses programas foram todos iniciados no meu governo. Essa ascensão começou lá atrás, e quem se beneficiou sabe disso."

Comunidade virtual

O debate sobre o que as oposições devem fazer antecipa outra iniciativa, também capitaneada pelo ex-presidente: a de lançar um "braço digital" dos tucanos a partir de junho. Com a contribuição de políticos e intelectuais, será criada uma comunidade virtual para a discussão de propostas políticas e econômicas para o País. Com o nome de Observador Político, o portal deverá ser lançado dia 18 de junho, quando o ex-presidente completa 80 anos. Terá conteúdos para Twitter e Facebook. A meta é reunir algo em torno de um milhão de usuários e contar com um amplo time de blogueiros. Já estão convidados Francisco Weffort, Soninha Francine, Gustavo Franco, Pedro Abramovay e Paulo Renato Souza, entre outros.
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É impressionante. Fernando Henrique Cardoso é totalmente infeliz na sua colocação sobre "as massas mais carentes e mal informadas", que os petistas vão traduzir para "os pobres e burros", botando a definição maldosa na boca do ex-presidente, mas a culpa é de quem acende a luz vermelha e avisa que ele errou. Bom, mas "a gente não somos o problema". Conforme FHC afirma aí em cima, todo mundo sabe que foi ele quem inventou a Bolsa Família. Basta olhar as estatísticas eleitorais. E para contrapor estes corneteiros da web, vem aí o Observatório Político com artigos da Soninha Francine e do Pedro Abramovay, aquele que, segundo a Veja, não aguentava os pedidos da Dilma Rousseff para produzir dossiês.
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Dora Kramer, como sempre, coberta de razão em sua coluna de hoje, no Estadão. Nossa crítica, desde ontem, está centrada, exatamente, na primeira frase do texto.

Falência múltipla

Que o PT tente desqualificar a análise de Fernando Henrique Cardoso sobre o papel da oposição, compreende-se, já que a lógica adotada por boa parcela do partido (há exceções) é a da negação de ideias quando partem do campo adversário.

Há também o fato de FH ter ido ao ponto conclamando a oposição a correr atrás das “novas classes possuidoras” antes que o PT o faça.

Agora, que os oposicionistas, aí incluídos tucanos, enxerguem as palavras dele pela perspectiva simplória de pregação ao “abandono do povão” é algo que só pode ser atribuído à cabeça atrasada de boa parte dos políticos e de especialistas cujas referências de raciocínio se prendem à dinâmica de funcionamento dos partidos.

Muita bobagem se falou, mas com elas produziram-se provas materiais a mancheias a respeito do que disse o ex-presidente sobre o esgotamento dos instrumentos tradicionais nas práticas político-partidárias.

Por essas e outras é que FH tem razão quando afirma que os partidos se transformaram em “clubes congressuais”, cada vez mais distantes da vida real.

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